quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

HIV faz 774 novas vítimas em 5 anos

Em cinco anos, 774 pessoas se infectaram com o HVI, vírus da Aids, em Ribeirão Preto. Apesar de apresentar redução comparado aos cinco anos anteriores (2003 a 2007), o número revela que tanto o ribeirão-pretano quanto o sistema público de saúde ainda falham na prevenção da doença. 
A cidade é a terceira com maior número de mortes por Aids no Estado e a quarta em casos. 
Os jovens, de 15 a 29 anos, estão na faixa de risco para a infecção. De acordo com dados da Secretaria de Saúde do município, eles representam 54% do total de infectados no período de 2008 a 2012 (último dado disponível pela Saúde). 
A população HSH (homens que fazem sexo com homens) é a categoria de exposição mais preocupante e responsável pelo crescimento das infecções de Aids na avaliação de Fátima Neves. 
A categoria homossexual é diferente da HSH. “Um homem heterossexual pode sentir desejo por outro homem e isso não quer dizer que ela seja homossexual”. 
Fátima avalia que até alguns anos atrás a informação do sexo homossexual não chegava à Saúde. Por isso, os números ainda apontam que o público heterossexual é o mais infectado. Em 2012, por exemplo, 52% dos casos de Aids registrados foram entre heterossexuais, 10,9% entre HSH e 2,3% entre bissexuais. Ainda assim, Fátima afirma que é necessário maior atenção com as relações homossexuais.
“Se eu não tiver uma boa relação com o paciente, ele não vai me dizer se faz sexo com outros homens ou não. Por conta de termos uma boa relação, nós começamos a receber esse tipo de informação dos pacientes. Essa população, assim, precisa ser trabalhada”, diz. 
Alexandre Grangeiro avalia que a exposição às drogas faz crescer o número de casos de Aids entre a população heterossexual. No início da década de 90 foi assim com as drogas injetáveis e hoje essa tendência se repete com o crack. “Os usuários de droga são a ponte para os casos entre o público heterossexual”, diz ele.
Aids
O portador do vírus HIV e o doente de Aids são pacientes diferentes. Ter o vírus não significa ter a doença. O HIV pode levar anos para se manifestar no organismo e, dessa forma, se transformar em Aids. Se, for devidamente acompanhado, o soropositivo pode levar uma vida normal.
“Com o diagnóstico precoce nós podemos vincular o paciente ao serviço de saúde e, se necessário, utilizar medicação para impedir ou retardar o aparecimento da Aids”, explica Fátima Neves, coordenadora do programa DST/AIDS do município.
Bailarino controla vírus
Quando descobriu que era portador do vírus HIV, Rafael Sanches Lopes, conhecido como Bolacha, tinha 25 anos e um milhão de planos. Havia acabado de mudar de Ribeirão Preto para o Rio de Janeiro para fazer carreira como bailarino. 
Hoje ele tem quatro anos a mais e – surpreenda-se! - dois milhões de planos, ainda que reformulados. “Eu fiz ser possível meu caminho, ainda com o HIV. Não ignorei, mas também não deixei o vírus dominar a minha vida”.

Superação
Rafael continuou nas artes e decidiu conscientizar através de suas obras. Escreveu um livro – “Uma vida positiva” - onde relata suas superações e tristezas. 
“As pessoas dizem que têm partes muito tristes, mas eu também tenho direito a cinco minutos de revolta. Todo mundo tem”. 
Essa, porém, não é sua característica principal. O jovem tem o otimismo na fala e no sorriso que exibe. “A primeira mudança foi entender que eu não poderia anular quem eu era. Sou sincero com as pessoas ao meu redor”.
Infecção
Ele acredita que se infectou no mesmo Rio de Janeiro para onde foi tentar a vida e revela que faltou prevenção. “Fazia dois anos que eu morava aqui. Foi descuido”. Conta que no diagnóstico, foi abalado pelo desespero. “Eu estava havia três semanas com diarreia e o médico pediu uma série de exames. Nos primeiros cinco segundos pensei em morte”. 
Para impedi-la, Rafael se superou. “Busquei qualidade de vida”. Por dia, ele toma entre seis e sete comprimidos.
A cada quatro meses o bailarino passa por check-up. Controla a vida noturna, os passeios, o que come e bebe. Por tudo isso, não esconde.
“É claro que eu preferia não ter”. Ainda assim, não desanima. “Eu aprendi a olhar o lado bom de tudo. Há quem diga que a doença é uma missão”.
Triplo
Fátima Neves, coordenadora do programa DST/AIDS do município, diz que alguns especialistas defendem que o número real de infectados de um município é três vezes o número de doentes. A diferença nos números registrados se deve à subnotificação dos casos.
Entre 2008 e 2012, foram registrados 889 casos de Aids em Ribeirão Preto. O fato de a notificação de infectados pela doença ser menor do que o número de doentes confirma que a maioria das pessoas chega ao sistema de saúde quando já está doente. 
Alexandre Domingos Grangeiro, pesquisador e professor do Departamento de Medicina Preventiva da USP, afirma que é necessário maior atenção do poder público, já que grande parte dos infectados ainda são desconhecidos no sistema de saúde. “Quando as pessoas iniciam o tratamento elas deixam de transmitir o vírus e há um impacto não só na mortalidade por Aids, mas também no controle da doença de forma geral”.
Para o professor, é necessário trabalhar com mais intensidade na conscientização da população. “A responsabilidade não pode recair somente sobre o paciente. Nós (poder público) já conhecemos a limitação das pessoas em procurar o diagnóstico e temos que lidar com isso”.
Mudança
Fátima Neves, coordenadora do programa de DST/Aids do município, considera que é necessário uma mudança comportamental na prevenção da aids. “Por mais informações que a população tenha, ela não consegue mudar o comportamento”. 
Ela salienta que as medidas de prevenção da Saúde são ampliadas a cada ano. Hoje, é possível ter acesso a métodos contraceptivos como preservativos em todas as unidades de saúde, sem regulação. Os testes para o HIV também passaram a ser realizados em todas as unidades de saúde. 
Fátima avalia que o teste de HIV ainda assusta. “As pessoas temem porque se expuseram e começam a ver a possibilidade de ter a doença. Precisamos desmistificar isso. Temos condições de tratar a infecção”. Por ano, a Saúde tem aumentado em cerca de 20% o número de testes anti-HIV realizados. Em 2013, foram feitos 32,3 mil exames.
Fonte: A cidade

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